Análise (Review) de Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli
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Published on 24/12/2023

 

Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli é um jogo de corrida simcade, meio-termo entre simulador e arcade, desenvolvido pela Eutechnyx e publicado pela System 3, baseado no campeonato de marca única Ferrari Challenge. O jogo está disponível apenas para plataformas da Sony e Nintendo no Ocidente, e é um título exclusivamente digital na Coréia do Sul. O jogo apresenta ao todo 14 pistas jogáveis, além do circuito de testes da Ferrari, Fiorano, editor de vinil e multi-jogador online em todas as versões, exceto pelo PlayStation 2. Uma versão expandida do título, chamada Ferrari: The Race Experience, foi lançada poucos anos depois.

Enredo

Como a maioria dos jogos de corrida, Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli não tem uma estória propriamente dita, mas se baseia em um campeonato do mundo real de mesmo nome. Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli é um campeonato de automobilismo de marca única criado em 1993, inicialmente atendendo aos proprietários do 348 Challenge que queriam competir com seus carros. A primeira temporada europeia ocorreu em 1993, com uma série norte-americana adicionada em 1994. Agora abrange quatro séries oficiais na Europa, América do Norte, Japão e Reino Unido. Os competidores de cada série são reunidos no evento anual da Final Mundial (Finali Mondiali).

 

 

 

Mecânicas e jogabilidade

De antemão, é necessário deixar claro que o jogo está disponível para diversas plataformas com capacidades de processamento diferentes, e até por isso é desenvolvido por duas empresas distintas. A versão de NDS é completamente diferente das versões PS2, Wii e PS3, que já apresentam certas particularidades entre si.

Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli foi promovido como uma experiência genuína e realista de corrida, introduzindo “50 veículos” (na realidade, 22) da marca Ferrari, desde veículos vintage ao protótipo FXX. Todos os carros tiveram seus modelos 3D supervisionados e aprovados pela montadora e, além disso, coloca-se muita ênfase na inteligência artificial dos pilotos rivais que “se adaptam ao seu estilo de corrida”.

O jogo não é exatamente um simulador de pilotagem, como tampouco é Gran Turismo, mas se estabelece como um meio-termo entre este e outros jogos com estilo arcade, como Need for Speed e a franquia GRID. Para quem costuma jogar títulos de corrida com a câmera exibindo o veículo em terceira pessoa (ou seria “terceiro carro”?), pode-se ter a impresão de que o jogo é completamente arcade, devido à tração exagerada da parte frontal. Por isso, recomendo sempre que possível jogar com a câmera no capô, que proporciona uma perspectiva melhor para conduzir o veículo, e isso é válido para todos os jogos!

No geral, é prazeroso e intuitivo de pilotar o veículo, exigindo apenas um pouco de prática. Embora haja uma curva de aprendizagem, ela não é tão íngrime, e você só precisa acertar os timings para frear e acelerar, algo que com o tempo se torna natural. O tutorial do jogo, em particular, é um excelente ponto de início e não deve ser pulado.

Em relação à inteligência artificial, é onde o jogo peca. A impressão que tenho, em todas as corridas, é que apenas o veículo adversário que larga na primeira posição tem realmente a intenção de vencer, e os demais se fazem presentes com o mesmo intuito, isso é, atrapalhando o jogador da melhor forma que podem, mesmo que eles mesmos se prejudiquem com suas manobras à la Destruction Derby, para que o primeiro não perca sua posição. Não é acurado, não é crível e com certeza poderia ter sido melhor trabalhado.

Por fim, uma vez que o primeiro colocado está distante o bastante para não ser mais renderizado, a impressão que se tem é que o mesmo começa a teleportar no mini-mapa, com o jogo tentando estimar sua posição, o que não consegue fazer de forma precisa. Torna-se simplesmente impossível alcançar a primeira posição, sendo necessário reiniciar a corrida.

 

 

Gráficos

O PlayStation 3 e o Xbox 360 são os dois sistemas pioneiros na geração HD, oferecendo o suporte nativo a resoluções HD (720p) e FHD (1080p) de maneira progressiva, algo que não vimos nas gerações anteriores. Além disso, a quantidade de polígonos nos modelos 3D foi acrescida significativamente, saltando nos permitindo sonhar com o potencial da mais nova geração. De fato, até hoje, pode-se dizer que esses dois consoles são modernos (em termos visuais), com medalhões da plataforma como Gran TurismoThe Last of UsAlien IsolationUncharted 3 entre outros oferecendo uma sensação semigual de realismo para a época e até mesmo em comparação com muitos jogos sendo lançados nos dias de hoje.

Por conta de ser um título cross-gen dentro do ecossosistema PlayStation, suas raízes na geração anterior, no PS2, são bem evidentes na versão HD de Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli, no PS3. Segundo a editora, System 3, o jogo leva o PlayStation 3 aos seus limites, o que não poderia ser menos verídico, se compararmos o jogo com outros jogos de corrida, como a franquia first-party Gran Turismo.

Os veículos e ambiente recebem retrabalho na versão da próxima geração, mas ainda nota-se texturas lavadas, serrilhado e os reflexos são muito similares. É o suficiente para justificar o boost da versão PS2 para o PS3, mas não tornam o título um exemplo da plataforma em termos de excelência gráfica. Além disso, o uso de bloom, presente em diversos jogos da geração X360/PS3, como o primeiro DiRT (cuja análise está disponível aqui) também concretizam que Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli é um produto de seu tempo.

Em termos de performance, o título corre a resolução 1080p em 30 quadros por segundo, com notável variação. Infelizmente, não existe uma versão para X360 do jogo, e o motivo disso não é bem claro. Em virtude disso, não há como comparar a versão de PS3 diretamente a de um console de especificações similares.

 

 

 

Som

A apresentação inicial do jogo não poderia ser melhor, com um close-up em um veículo da montadora ao som de uma peça de opera contemporânea (que você pode ouvir aqui). Porém, o restante do jogo não faz jus a essa impressão inicial, com aquela trilha-sonora genérica que você já ouviu na maioria dos jogos de corrida, infelizmente. Sugiro que ajuste o volume in-game para que o som da música não sobreponha o som dos demais efeitos, que também estão longe de impressionar.

Apesar de as músicas aparentarem ter sido removidas diretamente de um acervo público, são protegidas por direitos autorais, o que significa que você terá problemas para monetizar o conteúdo feito com base no jogo no YouTube e outras plataformas. 

 

 

Diversão

Com mecânicas estruturadas em fundações sólidas, Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli é certamente um jogo de corrida divertido e imperdível especialmente para aqueles aficionados por veículos da montadora de luxo Ferrari. No entanto, o jogo decide deliberadamente desconsiderar um recurso padrão dos jogos de corrida (tanto os que vieram antes como depois), que seria a opção de reiniciar a corrida.

O modo “Challenge” do jogo consiste em vencer uma campeonato com sete séries de duas corridas (finais de semana) e uma qualificatória (opcional) que ocorrem em circuitos de regiões específicas, estas sendo Itália, Europa e América do Norte. Para desbloquear o troféu atrelado a cada região, é necessário vencer todas as corridas, sem exceção, mesmo com todos os fatores adversos (chuva, IA sem temor pela vida), impedido de reiniciar a corrida necessário. Uma forma de contornar isso seria fechar o jogo no meio da corrida, sem permitir que o progresso seja salvo, o que nos permite voltar à seleção de corrida e tentar novamente.

Essa característica impiedosa do jogo não fará grande diferença para quem não caça troféus, mas mesmo assim a sua margem para terminar um campeonato de 14 corridas (com 5 minutos, no mínimo, cada) será bem menor sem poder recorrer a um reset em tempo real. O potencial de perder seu tempo, por causa de uma ou duas corridas na chuva, são grandes. Além disso, as corridas são mensuradas com base no tempo decorrido (ajustável, mínimo 5 minutos) e não por quantidade de voltas, o que não é um conceito interessante.

 

 

Problemas e bugs

O primeiro problema, e muito grave por sinal, é o fato da editora do jogo promovê-lo, tanto no seu site oficial quanto na contra-capa, fora uma mensagem de loading que faz menção a respeito, a presença de “50 veículos” Ferrari licenciados. O máximo de veículos que os jogadores conseguiram desbloquear, até hoje, corresponde a 22 veículos, embora haja o limite de 64 na garagem. É possível que, inicialmente, os desenvolvedores pretendiam introduzir até 50 veículos no jogo, por meio de atualizações (sejam elas gratuitas ou pagas).

De fato, foram comercializadas dois DLCs (“Pack 1” e “Pack 2”) que ao todo introduziram dez novos veículos, ainda longe dos prometidos 50. Além disso, o conteúdo foi comercializado apenas nas regiões europeias (como UK) da PlayStation Store, inibindo o acesso de outras cópias do jogo ao conteúdo adicional, mesmo este sendo cobrado. Cerca de três anos após o lançamento original de Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli, foi lançado Ferrari Challenge: The Race Experience, como uma “expansão” do título original, mas na prática sendo vendido como um jogo completamente diferente.

Outro problema, inerente à maioria dos jogos rodando no sistema PlayStation 3, diz respeito aos tempos de loading. Se um jogo estiver disponível para PS2, X360 e PS3, incrivelmente a versão para PS3 demonstra maiores tempos de loading do que as demais. Costumo jogar com um celular por perto para me distrair, devido aos longos períodos de tempo que essas transições costumam levar exibir.

 

 

Extras

Um bônus interessante do jogo é que podemos colecionar várias cartas, as “Challenge Cards”, conforme cumprimos com desafios estipulados pelo jogo, como finalizar todas as temporadas “Challenge”, “Trofeo” e assim por diante, incluindo atividades miscelâneas,. Essas cartas, além de estarem disponíveis para visualização a qualquer momento pela opção do menu principal, estão vinculadas a um mini-game ao estilo Super Trunfo, mas apenas com carros da montadora Ferrari! Certamente a maior parte do seu tempo não será dedicada a esse mini-game, que sem dúvidas é um extra chamativo para fãs de veículos da marca, com especificações técnicas de cada veículo.

 

 

Conclusão

Gosto de pensar em Ferrari Challenge: Trofeo Pirelli como o Demon’s Souls dos jogos de corrida: difícil de aprender, fácil de dominar, com alguns conceitos datados e escolhas questionáveis de design. Até mesmo quem já possui certa familiaridade com jogos de corrida estranhará a dirigibilidade que não assumiu um perfil arcade ou de simulação, sendo difícil manter os carros na pista se não nos mantivermos em alerta o tempo todo. Uma coisa que pode ajudar e muito em títulos simcade é pilotar o carro com a câmera localizada no capô, tanto para prover melhor visão do que está por vir como evitar a desconcentração por ver a traseira do veículo sambando de um lado para o outro na pista, dando a sensação de arcade.

O ponto alto do jogo está na exclusividade de inclusão de veículos de luxo da montadora Ferrari, que podem ser pilotados ao longo de uma diversidade de eventos separados por países e veículos. No entanto, o jogo apresenta apenas 22 dos 50 veículos prometidos, o que seria passível de processo se alguém estivesse disposto a comprar a briga. O ponto baixo está na trilha-sonora genérica e problemas técnicos, como loadings longos e gráficos medíocres para um título de sétima geração.

Uma última coisa que achei interessante comentar é que a edição original (Black Label) do jogo disponível em mídia física possui uma versão diferente do modo de jogo arcade daquela presente na versão digital, assim como a do bundle “Ferrari Challenge Trofeo Pirelli + Supercar Challenge“, em que os adversários nesse modo de jogo, apenas, são mais difíceis. Leia mais aqui.

Pontos negativos

      • Quantidade de veículos presentes significativamente menor do que a prometida;
      • Inteligência artificial desnecessariamente agressiva e surrealista para um título de corrida;
      • Inconsistência gráfica, com veículos de modelagem PS3 percorrendo cenários de PS2;
      • Trilha-sonora genérica e esquecível, protegida por direitos autorais;
      • Longos tempos de loading e outros problemas técnicos, como micro stutterings.

Pontos positivos

      • Mecânicas de dirigibilidade sólidas, nem fáceis nem difíceis (similar a DRIVECLUB);
      • Modelagem e reflexos de veículos bem trabalhados, além de efeitos como água;
      • Ampla variedade de eventos e conquistas, categorizadas por países e veículos;
      • Mini-game de cartas baseado em Super Trunfo trazem genuidade ao jogo;
      • Uma experiência divertida que exige um alto nível de atenção para se manter em primeiro.

Avaliação:

Gráficos: 6.0

Diversão: 9.0

Jogabilidade: 8.5

Som: 5.5

Performance e otimização: 6.0

Nota final: 7.0

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