Análise (Review) de Anthology of Fear
11/10/2023 17:53 in Análises completas
FICHA DO JOGO
Lançamento: 17 de março de 2023.
Jogadores: um jogador.
Gêneros: ação, point and click, survival horror.
Desenvolvedoras: OhDeer Studio, 100 GAMES.
Editoras: 100 GAMES, Gamersky Games.
Idiomal disponível (dublagem): inglês.
Idiomas disponíveis (legendas): português (Brasil), inglês, francês, italiano, alemão, espanhol (Espanha), chinês (tradicional), chinês (simplificado), theco, japonês, coreano, polonês, russo, turco, ucraniano.
Plataformas: Windows 7+, Switch.
Classificação indicativa: 14 anos (Medo, Violência).

Versão do jogo analisada: edição global (Steam), jogada no PC.

 

Anthology of Fear é um jogo de terror psicológico desenvolvido pelo estúdio OhDeer Studio [site] em colaboração com a 100 GAMES [site]. À primeira vista, parece que esta foi a primeira empreitada de ambos os estúdios na plataforma PC, ao conferir seus respectivos históricos na Steam. Visitando seus sites oficiais, nota-se que cada um conta com um amplo portfólio, cuja maioria dos títulos encontra-se disponível para outras plataformas.

O jogo é descrito como uma aventura investigativa cuja estória se desdobra no formato de capítulos, com cada capítulo cobrindo a estória de um personagem diferente, envolvido com uma misteriosa estrutura clínica abandonada. As estórias não possuem vínculo entre si, e supostamente introduzem diferentes elementos de gameplay, uma premissa muito similar à de Layers of Fear.

O design chefe do jogo, Hubert Zatorski, relatou, antes do lançamento, que fãs de Silent Hill e Outlast se sentiriam em casa, e faz menções a Layers of FearAlan Wake e Hunt: Showdown como fontes adicionais de inspiração [1]. Cada episódio seria como um “pequeno jogo” dentro de um jogo. A veracidade desta informação será conferida na íntegra com a concepção da análise, que cobre a versão para PC, disponível na Steam, com chave concedida pela editora.

Enredo

No jogo, assumimos controle de Ethan Sorren, que decide partir à procura de seu irmão desaparecido, após longos meses de investigações infrutíferas. Eventualmente, ele se depara com uma clínica abandonada e imediatamente perde o contato com sua parceira.

Lá, ele descobre, por meio de fitas cassete e outros documentos, os experimentos que se sucederam com os pacientes da clínica. Um dos pacientes havia sido seu irmão, Nathan Sorren, que buscava, na clínica, curar seus distúrbios do sono.

Qualquer detalhe além disso seria spoiler, e a estória do jogo não é realmente muito importante para apreciá-lo, esta que é contada em fragmentos, e nem todos os jogadores ligarão os pontos ou se darão ao trabalho de compreender. Você pode, ao término do jogo, procurar por interpretações feitas por outros jogadores a fim de compreender melhor a estória, que superficialmente serve apenas como contexto para um simulador de caminhada com jump-scares bem distribuídos, como este post.

Em poucas palavras, a estória do jogo não é ruim, mas com certeza não é o selling-point do produto, exceto para aqueles jogadores muito atentos aos detalhes que não apenas possuem o costume de ler e ouvir os documentos distribuídos pelo cenário como também revisitá-los, e re-jogar o título novamente do início. Particularmente, se procuro estória num jogo, vou ler uma visual novel ou algo do gênero, e não um título de terror.

 

 

Mecânicas e jogabilidade

A minha primeira experiência com Anthology of Fear foi jogando a versão demonstrativa do jogo, disponível pela Steam, pouco antes de receber a key para análise. Logo notei que as mecânicas do jogo se firmam no conceito de simulador de caminhada, com um pouco mais de liberdade para explorar o cenário. A opção de reconhecer a presença dos mesmos, para exibir uma descrição, ocorre mantendo pressionado o botão direito do mouse, liberando um cursor que permite a interação com elementos do cenário.

Não me lembro de outro jogo com uma mecânica similar, exceto por, talvez, DayZArma e similares. Apesar de ser uma mecânica simples, nos concede a interação com vários elementos do ambiente com o mínimo de comprometimento na movimentação da câmera, o que é um detalhe muito chamativo. Praticamente todos os objetos do cenário possuem uma descrição única, seja um caso de plantas, um armário, um desenho na parede… Os desenvolvedores deram a máxima atenção ao nível de detalhes nesse sentido, o que esbanja o esmero que tiveram ao conceber o jogo.

É claro que nem todos os objetos possuem uma descrição única, podendo se repetir às vezes, mas não há como alcançar a perfeição, não é mesmo? Além disso, uma grande mudança entre a versão demo e a final é que empregaram a opção de habilitar o modo de interação “clássica”, ou seja, sem segurar o botão direito do mouse, nas opções. O problema é que ela vem ativada por padrão, o que tira um pouco do charme do jogo. Creio que poderiam manter o estilo único como padrão, como ocorre na demo.

Sobre combate, o jogo possui o mínimo possível, com traços de combate em algumas ocasiões muito pontuais, onde nos é dada uma espécie de arma (ou siringa?), que pode ser utilizada contra os inimigos nada convidativos que encontramos. Além disso, há alguns locais do jogo em que podemos nos esconder, como armários, mas não há uma espécie de “perseguidor” ativamente vasculhando o cenário à nossa procura, sendo necessário esconder-se apenas em momentos scriptados.

 

 

Gráficos

Primeiramente, você pode conferir neste link todas as opções disponíveis, por meio do menu do jogo, no que tange gráficos, áudio e demais configurações. Como fica evidente pelas screenshots, o jogo é muito bem trabalhado visualmente, embora apresente alguns efeitos que podem não agradar a todos os jogadores, e por isso há a opção de desabilitá-los. Além disso, notei que a versão para PC é muito bem optimizada, utilizando ao máximo de CPU e GPU disponíveis.

Um ponto que me decepcionou muito é a sinergia das opções “Resolution” e “V-Sync”, dentro do jogo. Note que, apesar de reconhecer resoluções superiores a 60 Hz, caso habilitemos a sincronização vertical, seja pelo painel de controle da NVIDIA ou por dentro do jogo, o frame-rate fica travado a 60 quadros por segundos. Isso não é nem um pouco ideal para um monitor de 144 Hz. É possível desabilitar o V-Sync e deixar o frame-rate limitado por uma ferramenta externa, como Rivatuner Statistics, o que não resguarda o jogador de se experienciar o desagradável screen-tearing.

Apesar do meu processador (i7-3770) estar no limite dos requisitos mínimos (i5-4690K), foi possível jogar a altas taxas de quadros por segundo, junto de uma GTX 1080 (o mínimo é uma GTX 970), devido ao excelente trabalho na optimização do uso dos recursos. A única ressalva fica por conta da sincronização vertical do jogo que não suporta altas taxas de refresh-rate, e não tive até então uma posição oficial a respeito [2].

 

 

Som

A trilha-sonora de Anthology of Fear não é muito ampla, e apenas serve para complementar o jogo, nos esporádicos momentos em que é necessária. Inclusive, você pode conferir na íntegra a trilha-sonora do título no YouTube, por meio de um vídeo que comprime a música-tema principal e demais efeitos sonoros presentes ao longo da experiência. São apenas oito minutos de trilha-sonora (livre de direitos autorais), que não será o selling-point do jogo para a maioria.

Anthology of Fear não é um título indie, oposto o que sugere uma das tags disponíveis no Wikipedia, mas certamente não teve orçamento ilimitado. Apesar disso, o jogo conta com uma dublagem competente, embora breve, contrariando as minhas expectativas. A dublagem está disponível apenas no idioma original (inglês dos EUA), mas há legendas disponíveis em outros idiomas, incluindo o português brasileiro.

 

 

Diversão

Como um título de terror psicológico, combinando elementos de exploração e point and click, Anthology of Fear é sem dúvidas divertido, mas não há como amanteigar o fato do quão curto o jogo é, havendo alternativas melhores pelo mesmo preço (R$ 32,99), ou até menos.

Se você é um jogador que costuma explorar a fundo o ambiente em busca de ler todas as descrições (de objetos), documentos, fitas, assim como re-jogar o jogo várias vezes até elaborar a sua própria interpretação da estória e desbloquear todas as conquistas, Anthology of Fear pode se pagar, apesar de ser um título de curta duração. A curta duração do jogo é justamente o que concedeu aos desenvolvedores a liberdade de empregar o integrar o máximo de detalhes da melhor maneira possível.

Para aqueles que veem em Anthology of Fear apenas outro título de terror com jump-scares, pouco se atentando à estória, descrições e pormenores, não é um jogo que particularmente recomendo. É possível que o jogo seja finalizado antes do período de reembolso da plataforma seja estourado.

 

 

Problemas e bugs

Mesmo sendo um título curto, os desenvolvedores conseguiram empregar um bug, havendo pouca margem para fazê-lo. Os bugs aos quais me refiro dizem respeito às opções gráficas, disponíveis na versão PC, que comentei a respeito anteriormente.

É bem provável que outro estúdio, além dos desenvolvedores originais, tenha trabalhado no port para PC, caso o original tenha sido outra plataforma. Mesmo assim, quando o jogo aparentemente oferece resoluções e refresh-rates maiores do que o padrão (1920×1080, 60 Hz), espera-se que funcione, o que não é o caso. O jogo limita a taxa de quadros a 60 sempre que a sincronização vertical estiver habilitada.

Felizmente, não é um bug que imagino comprometendo as outras versões desse jogo, como a de Switch e a vindoura versão para Xbox One.

 

 

Extras

Não há conteúdo adicional propriamente dito, como um álbum de imagens ou algo do gênero. A propósito, o jogo poderia disponibilizar um amálgama de documentos e fitas coletados ao longo do jogo, para que possamos revisitá-los a partir do menu principal, sem a necessidade de rejogá-lo do início. Sequer existe um seletor de episódios. Elementos QoL como estes são sempre apreciados.

 

 

Conclusão

Anthology of Fear é uma aventura que almeja o público de títulos como Silent HillOutlastAmnesia e outros títulos de terror, mas falha em se destacar dentro do gênero, o que não chega a ser necessariamente negativo. A partir de falhas podemos melhorar em busca de gerar resultados mais satisfatórios. Graficamente, Anthology of Fear faz excelente uso da engine Unity e roda excepcionalmente bem mesmo em hardware um pouco mais obsoleto.

Porém, não há como ignorar a repetição de cenário, trilha-sonora de oito minutos, composta de efeitos sonoros disponíveis na Internet gratuitamente, e story-telling que não apelará à maioria dos fãs de títulos de terror. É um jogo com potencial, mas atualmente é difícil justificar o investimento de R$ 32,99 em um jogo com duas horas e meia de duração, sendo que temos alternativas melhores atualmente por esse preço, ou até menos. Por pouco, o jogo não pode ser finalizado dentro do período de reembolso, o que é alarmante, não apenas para quem joga como para quem comercializa o produto.

Se você busca uma experiência diferente no gênero de jogos de horror, não se importa em re-jogar várias vezes para obter melhor compreensão e procura suportar o desenvolvimento de quem está moldando seu nome no gênero, Anthology of Fear pode ser uma aquisição interessante. Mesmo assim, recomendo apenas caso se depare com o jogo em promoção.

Pontos negativos

  • Enredo confuso e fragmentado, final abrupto e rushado;
  • Mecânicas de combate (e fuga) pouco exploradas;
  • Trilha-sonora royalty-free com poucas faixas;
  • Repetição e reciclagem de cenários e objetos;
  • Sincronização vertical não respeita o refresh-rate, travando a 60 FPS (PC).

Pontos positivos

  • Alta atenção a detalhes, fornecendo uma descrição para virtualmente todo objeto do ambiente;
  • Modo de interação com objetos (point & click) única, embora desabilitada por padrão;
  • Excelentes gráficos e optimização de uso dos recursos do hardware (PC);
  • Legendas disponíveis em diversos idiomas, incluindo o português brasileiro;
  • Apesar de curto, não é maçante a ponto de comprometer o fator replay.

Avaliação:

Gráficos: 9.0

Diversão: 7.0

Jogabilidade: 7.5

Som: 6.0

Performance e otimização: 7.5

Nota final: 7.4 / 10.0

 

Jogo analisado em outubro de 2023 no PC, com chave para ativação no Steam fornecida pela editora.
Obs.: esta análise pode ou não representar a experiência oferecida pelas versões disponíveis para Switch e (futuramente) Xbox One.

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