FICHA DO JOGO Lançamento: 30 de setembro de 2008 Jogadores: um jogador Gêneros: ação, aventura, survival horror Desenvolvedora: Double Helix Games Editora: Konami Idiomal disponível (dublagem): inglês. Idiomas disponíveis (legendas): inglês, francês, italiano, alemão, espanhol. Plataformas: PlayStation 3, Xbox 360 e PC (Windows) Classificação indicativa: M (Mature 17+) Versão do jogo analisada: edição americana, jogada no PlayStation 3 e Xbox 360. |
Silent Hill: Homecoming é o segundo título da franquia desenvolvido por desenvolvedores ocidentais (após Silent Hill: Origins), concebido pelo estúdio americano Double Helix Games e publicado pela Konami. Encontra-se disponível para Xbox 360, PlayStation 3 e Windows, embora esta última versão não seja muito recomendável devido aos diversos problemas técnicos, por mais que tenha recebido patches e correções criadas por fãs. Um aspecto criticado por muitos, Homecoming enfatiza o combate corpo-a-corpo, ao introduzir um personagem com experiência militar. Infelizmente, a versão mais estável do título (Games on Demand), jogável em Xbox One e plataformas mais recentes, encontra-se indisponível na loja digital brasileira. Por outro lado, o port para PC pode ser adquirido na Steam por um preço regional, entrando em promoção ocasionalmente. Curiosamente, os jogos nunca foram lançados no Japão. Neste artigo serão analisados os ports para PS3 e X360, possivelmente comparando-os quando for relevante.
Enredo
O jogador assume o papel de Alex Shepherd, um soldado das Forças Especiais que volta para casa de uma missão no exterior para descobrir que seu pai e irmão mais novo, Joshua estão desaparecidos, e que sua mãe entrou em catatonia. Alex começa a procurar por seu irmão em sua cidade natal, Shepherd’s Glen. Alex logo descobre que muitas outras pessoas desapareceram da cidade desde que ele partiu, quando ele encontra sua amiga de infância Elle Holloway pregando sinais de “desaparecido” em um quadro do lado de fora do departamento de polícia. Enquanto Alex explora a cidade, ele testemunha as mortes de outros residentes por monstros no Otherworld, todos com uma uma criança desaparecida. Incapaz de encontrar seu irmão, Alex logo encontra-se a caminho de Silent Hill.
Mecânicas e jogabilidade
Silent Hill: Homecoming é muito similar aos anteriores, no sentido de que podemos assumir a pele do protagonista, explorando o cenário à procura de pistas para avançar na trama, coletando itens essenciais, como armas, munição, remédios e, claro, enfrentando inimigos que se prostram diante de nosso caminho. O que distingue SH:H dos demais é justamente essa última parte, o combate.
Em títulos da franquia, até então, nós víamos obrigados a evitar inimigos por conta das mecânicas limitadas e ineficientes de combate, assim como a escassa munição disponível a nós. Alex, por conta de seu histórico militar, ou é disso que os desenvolvedores quiseram nos convencer, tem mais liberdade para lidar com os inimigos do que seus antecessores. Isso inclui ataques melee carregados, de qualquer jeito, e até combos, bloquear, esquivar e alternar entre inimigos com o analógico direito. Como as mecânicas de combate corpo-a-corpo já são muito eficientes, você economizará muita munição ao longo do jogo, a menos que tome muitas decisões erradas.
Inédito para a franquia até então, o jogador pode fazer escolhas, que levam a ramificações na forma como a estória se desdobra. Além disso, a câmera nunca corta para uma perspectiva fixada pelos desenvolvedores, como ocorre em Resident Evil, e se mantém fixa de forma a mostrar as costas do personagem o tempo todo.
Como é de costume da franquia, o jogo apresenta diversos enigmas a serem resolvidos no decorrer do jogo. Particularmente, não é uma experiência que eu procuro em jogos eletrônicos, cuja implementação é feita apenas para estender artificialmente o tempo de jogo, pois alguns puzzles são desnecessariamente complicados e não fazem sentido se considerarmos o contexto do jogo dentro de um contexto real. Em todo caso, os puzzles retornam. Por fim, o jogo disponibiliza dois níveis de dificuldade: Normal e Hard.
Gráficos
Visualmente, ambas as versões são muito similares, mas não iguais. No X360 temos uma resolução nativa de 1280×720 apresentando leve anti-serrilhado de 2x, ao passo que no PS3 o jogo é renderizado a 1024×576 com upscale para 1280×720. A maioria das pessoas, me incluindo, não notaria essa sutil diferença na qualidade de imagem, exceto pelo grupo Digital Foundry, que fez essa comparação técnica, muitos anos atrás [1].
A favor do PS3, temos um sistema de iluminação melhor. Ou melhor dizendo, temos um sistema de iluminação. Na versão de X360, os personagens têm uma aparência cerâmica, que dá a impressão de que não fazem parte do cenário. Isso se torna muito claro na primeira cutscene com a “Judge Holloway”. Possivelmente, os desenvolvedores esqueceram de aplicar o material adequado em determinadas texturas, ou simplesmente não tiveram tempo.
O jogo não é feio, mas é um produto de seu tempo; lançado nos primeiros anos da sétima geração, muitos elementos contam com baixa contagem de polígonos e texturas de baixa resolução. Certos inimigos exibem texturas bem esticadas, algo difícil de ignorar.
Se formos comparar Homecoming com outros jogos da franquia, algumas animações e a inteligência artificial não são muito melhores do que tivemos no PS2. O design de monstros não é digno de aplausos, mas não chega a ser terrível como em Downpour. A atmosfera não é terrível, mas não induz medo pelo desconhecido. Para ser justo, apenas o original se excede nisso.
Som
Em relação ao trabalho sonoro de Silent Hill: Homecoming, a percepção pode ser divisiva. A música e os efeitos sonoros do jogo são dignos de elogios por criar uma atmosfera assombrada e imersiva, enquanto é válido notar que não possui o mesmo nível de originalidade e profundidade atmosférica dos jogos anteriores da série.
A trilha sonora do jogo foi composta por Akira Yamaoka, que também compôs a música dos jogos Silent Hill anteriores. A música pode não ser tão memorável quanto em trabalhos anteriores de Yamaoka, mas é possível notar a introdução de elementos de rock. Em todo caso, em 90% do jogo, enquanto estamos explorando, o que nós ouvimos é completo silêncio.
As músicas tocam apenas em momentos específicos, de forma a representar um personagem. Essa é uma tendência adotada por jogos, de forma a integrar a trilha-sonora como um elemento de segundo plano. Particularmente, prefiro que a trilha-sonora de um jogo seja mais relevante dentro do contexto do jogo em si, em vez de receber destaque apenas quando disponibilizada como lista de reprodução no YouTube.
Da mesma forma, opiniões sobre os efeitos sonoros do jogo são mistas. Enquanto são eficazes em criar uma atmosfera assustadora e perturbadora, nota-se que eles dependem muito de sustos repentinos e não transmitem a sutileza e nuances dos jogos anteriores.
Diversão
Se Silent Hill: Homecoming é um jogo divertido ou não pode ser subjetivo e varia dependendo das preferências do jogador. Alguns jogadores gostam da combinação do jogo de horror de sobrevivência com jogabilidade mais orientada para a ação, enquanto outros criticam por se desviar demais da atmosfera e estilo de jogos anteriores da série.
O título pode ter empregado novas mecânicas de combate corpo-a-corpo para o protagonista, mas a essência é a mesma de títulos anteriores. Você estará explorando a abandonada cidade de Shepherd’s Glen, posteriormente se dirigindo a Silent Hill para resolver as pendências mais urgentes do seu subconsciente.
Tradicionalmente, Silent Hill se excede em contar uma estória, mas também é divertido vermos o jogo como uma espécie de check-list; você se move por ambientes externos e internos, procura por itens distribuídos pelo cenário e se defende de inimigos utilizando o que estiver à sua disposição no momento, ao passo que destacará no mapa as passagens bloqueadas. Os objetivos primários não são muito claros, e por isso que a exploração e interpretação da estória se tornam essenciais.
Vale mencionar, o jogo não é nem um pouco assustador, como foi o primeiro Silent Hill, a estória não é tão engajadora quanto a do segundo, e os gráficos não impressionam tanto quanto o terceiro, mas é divertido e curioso ver como se personifica a interpretação de desenvolvedores diferentes dos originais sobre o que se trata Silent Hill. A essência do gameplay se manteve basicamente a mesma, mas o design de monstros e alguns elementos são resgatados de outras formas de mídia, como filmes, se manifestando de maneira supérflua.
Os mecanismos de combate do jogo foram elogiados por alguns por serem mais refinados e responsivos do que os de jogos anteriores da série. No entanto, outros criticaram o combate do jogo por ser repetitivo demais e carente de profundidade. Os quebra-cabeças do jogo também receberam críticas mistas, com alguns jogadores achando-os envolventes e desafiadores, enquanto outros os consideraram muito simples ou até frustrantemente obscuros.
Em última análise, se alguém vai considerar Silent Hill: Homecoming um jogo divertido ou não dependerá de suas preferências pessoais quando se trata de jogos de horror de sobrevivência e ação. Para mim, o jogo cumpre o que promete, nesse sentido.
Problemas e bugs
Contrário às expectativas, Homecoming não é infestado por bugs e problemas técnicos que o impeçam de avançar. Isso passa a impressão de que o desenvolvimento não foi conturbado e apressado, como vimos anos depois em Downpour. É claro que isso se aplica apenas às versões para consoles, uma vez que a versão PC foi lançada por lançar e é praticamente intragável sem aplicar correções criadas por fãs.
PS3: por conta da menor resolução interna e ausência de anti-aliasing, esse port na verdade é reproduzido de forma mais suave do que a sua contraparte. Em raríssimos momentos, é possível notar quedas de quadros ou lentidão. Isso chega a surpreender devido à dificuldade que desenvolvedores no geral tiveram com o processador do console.
X360: esta versão, por outro lado, apresenta maior inconsistência no decorrer do gameplay. Apesar de oferecer uma arquitetura mais amigável para se programar e permitir a instalação do conteúdo íntegro no disco rígido, em vários momentos o jogo diminui a taxa de quadros na versão para Xbox, o que quebra a imersão. A primeira incidência de notável baixo desempenho é no porão da casa do protagonista, que à altura encontra-se inundado.
Extras
Diferentemente de seu sucessor, Silent Hill: Homecoming não inclui qualquer conteúdo adicional no formato de side-quest. Explorar a cidade um pouco além do que a estória principal nos leva a fazer não o recompensará de forma significativa, além de alguns itens colecionáveis como fotos, desenhos e soros (literalmente, um item de regeneração de vida).
As tomadas de decisões feitas no decorrer do jogo podem levar o jogador a um de cinco finais diferentes, quatro canônicos e um bônus, envolvendo um UFO e um certo cachorro. Inclusive, não é incomum alguém engatilhar esse final por acidente, visto que seus requisitos não são difíceis de cumprir.
Há demasiado incentivo para jogar o jogo novamente do início ao fim, como roupas desbloqueáveis para diferentes personagens, assim como uma serra e uma pistola a laser de munição ilimitada, para quem quer desbloquear os finais restantes com o mínimo de dor de cabeça possível.
A versão de Xbox 360 contém 32 conquistas, que são desbloqueáveis de maneira orgânica, com poucas perdíveis. As que trarão maiores problemas são as de encontrar todos os itens colecionáveis, uma vez que o backtracking do jogo é limitado ao avançar para determinadas áreas.
Conclusão
Fica claro que Silent Hill: Homecoming oferece uma experiência de jogo única e envolvente para os fãs do gênero survival horror. Embora possa não ter tanto conteúdo adicional quanto seu sucessor, os cinco finais diferentes do jogo, trajes e armas desbloqueáveis e conquistas fornecem muito incentivo para os jogadores explorarem o jogo completamente. Os desenvolvedores foram minuciosos em distribuir descrições para diversos objetos e cenários do jogo, para quem possui o hábito de spammar X (ou A) ao caminhar pelo cenário.
Além disso, os gráficos e o design de som do jogo podem ajudar a criar uma atmosfera tensa que aumenta a sensação geral de desconforto. O sistema de combate do jogo, embora não seja perfeito, oferece um desafio decente para os jogadores enquanto eles navegam pelos vários inimigos e obstáculos que estão em seu caminho. Por outro lado, alguns podem ter a impressão de que o combate do jogo é muito fácil, visto que o uso de combos melee é extremamente eficiente, tornando as armas de fogo um luxo, e não necessidade. Alex não apenas se excede no combate melee, como sua mira é perfeitamente estável.
Alguns fãs podem ficar decepcionados pela forma como os desenvolvedores ocidentais lidaram com alguns elementos clássicos de Silent Hill, como a presença de Pyramid Head, que seria fruto da imaginação do protagonista do segundo jogo, e a reciclagem de monstros concebidos pelos japoneses. Os inimigos originais, vistos apenas nesse jogo, não possuem aparências distintas e memoráveis, mas são muito mais elaborados do que os que veríamos em Downpour, por exemplo, apesar das texturas esticadas.
No geral, Silent Hill: Homecoming é uma adição sólida à franquia Silent Hill e vale a pena jogar para fãs de jogos de terror que procuram por uma experiência diferente. Como o jogo está disponível apenas para os consoles de sétima geração em formato físico, e nunca recebeu um remaster, não há muito o que fazer sem recorrer a métodos alternativos. Felizmente, você pode adquirir a versão PC na Steam caso queira demonstrar interesse e suporte pelo título, mas não é recomendável que a jogue, devido aos diversos empecilhos.
Pontos negativos
- Falha em introduzir monstros e inimigos memoráveis, resgatando elementos dos anteriores;
- Puzzles em sua maioria não fazem sentido e não agregam valor ao jogo;
- As mecânicas de combate e mira perfeitos não fazem sentido para o background do protagonista;
- A atmosfera e efeitos sonoros não instilam tanta tensão quanto títulos passados;
- Performance técnica poderia ser melhor trabalhada, de forma a reduzir slowdowns (X360);
- Iluminação faz com que os personagens estejam sobrepostos no ambiente (X360);
- Alguns efeitos sonoros se fazem ausentes em relação à contraparte (PS3);
- Save-points extremamente mal distribuídos ao longo do jogo.
Pontos positivos
- Mecânicas de combate satisfatórias, fornecendo mais meios para lidar com inimigos;
- Introdução de tomadas de decisão que podem influenciar o desfecho da estória;
- Embora difícil de notar ao jogar, a memorável trilha-sonora é composta por Akira Yamaoka;
- Jogo cumpre seu requisito mínimo, que é entreter o jogador, seja pela estória ou gameplay;
- No geral, há poucos problemas técnicos e bugs que comprometam a experiência (PS3);
- Amplo incentivo para explorar o cenário e jogar, com desbloqueáveis, colecionáveis e descrições.
Avaliação:
Gráficos: 7.0 (PS3) / 7.5 (X360)
Diversão: 8.5
Jogabilidade: 8.0
Som: 7.0 (PS3) / 7.5 (X360)
Performance e otimização: 7.0 (PS3) / 6.0 (X360)
Nota final: 7.5 (PS3/X360) / 10.0
Jogo analisado em outubro de 2021 reproduzido no hardware original (PlayStation 3).
Jogo analisado em maio de 2023 reproduzido no hardware original (Xbox 360).
Obs.: esta análise pode ou não representar a experiência oferecida pela versão emulada de Xbox 360 no Xbox One.