FICHA DO JOGO Lançamento: 15 de junho de 2007 Jogadores: um jogador (campanha), 100 jogadores (online) Gêneros: corrida, rally, simcade Desenvolvedora: Codemasters Editora: Codemasters Idioma disponível (dublagem): inglês Idiomas disponíveis (legendas): inglês Plataformas: PC, Xbox 360 e PlayStation 3 Classificação indicativa: PEGI 12 Versão do jogo analisada: edição europeia jogada no PlayStation 3 e Xbox 360. |
Desenvolvido e auto-publicado pela Codemasters, mesma criadora da franquia F1 e Grid, Colin McRae: DiRT, é o ponto de virada da franquia de rally que nasceu em 1998 no PlayStation original, por conta de sua estreia nos consoles de sétima geração, e o último a carregar o nome do piloto de rally, que faleceu um dia após o lançamento do jogo para PS3 na Europa. Por conta disso, os títulos subsequentes da franquia deixaram de carregar o nome de Colin McRae.
Usufruindo dos recursos de ambos os consoles de sétima geração em primeira mão, o jogo introduz novos gráficos, áudio, motor de física, veículos e engine inéditos para a franquia. No ano seguinte, recebeu uma versão móvel desenvolvida em Java para dispositivos móveis. Neste artigo estaremos analisando o jogo para ambos PS3 e X360, possivelmente comparando ambas as versões quando for relevante.
Introdução
No menu principal, o jogador se depara com as seguintes opções: Career (carreira) – um modo que permite ao jogador ascender nos rankings da carreira fictícia, cujos níveis vão desde o tier 1 ao 11, em forma de pirâmide. As corridas exigem uma quantidade de pontos para serem iniciadas, e cada uma utiliza um veículo diferente, que por vezes precisa ser adquirido.
Os tipos de corrida são variados e serão abordados posteriormente; Championship (campeonato) – este modo oferece cinco séries de corridas diferentes, nas quais o jogador disputa pelo primeiro lugar, com base na quantidade de tempo que levou para completar cada corrida, sendo o tempo acumulativo entre uma corrida e outra; Multiplayer (multijogador) – este modo permite disputar pelo melhor tempo contra até cem jogadores no modo online, assim como jogar em LAN, necessitando fazer uso do System Link (no Xbox 360) e recurso equivalente no PlayStation 3. É necessário possuir dois consoles e duas cópias do jogo para fazer uso dessa funcionalidade.
Os servidores online alegadamente foram desativados pela desenvolvedora antes do lançamento da continuação, DiRT 2, em 2009. No entanto, como a conexão entre jogadores não é intermediada por servidores, e ocorre pelo protocolo P2P (peer-to-peer), você ainda pode jogar online nos consoles.
Mecânicas e jogabilidade
É claro que, comparado a títulos mais recentes da franquia, como DiRT Rally e DiRT Rally 2.0, Colin McRae: DiRT não aparenta ser tão realista. Contudo, as mecânicas de condução, física e dano são extremamente competentes para a época, rendendo ao título uma recepção positiva quando foi lançado.
De fato, o jogo está muito longe de poder ser considerado “arcade”, até mesmo para os padrões atuais, visto que a menor pedra no caminho, se não evitada, pode “totalizar” o seu carro. Entre os diferentes tipos de eventos oferecidos pelo jogo, podemos mencionar:
Rallycross: oito carros disputam pelo primeiro lugar em uma pista parte lama, parte asfalto.
Crossover: dois carros em duas pistas distintas que se cruzam ao longo do caminho.
Rally Raid: veículos 4×4 competem entre si em corridas off-road.
USS CORR: corridas off-road em caminhões.
Ao todo, há 46 veículos e 186 liveries (pinturas) a serem adquiridos ao longo do modo carreira, estes que se tornam disponíveis também nos outros modos para uso pelo jogador. Em eventos compostos por mais de uma corrida, é necessário reparar o veículo ao custo de tempo, sendo alotada uma hora, pelo jogo, para realizar o conserto essencial.
A quantidade de pistas, por outro lado, é pequena e repetitiva, com apenas 12 no total. Embora o modo carreira introduza carretas e caminhonetes para pilotarmos, são apenas um ou dois eventos que fazem uso desses veículos, que logo caem no esquecimento. O modo carreira, embora pareça variado no começo, se torna repleto de filler (famosa encheção de linguiça) ao longo do caminho.
Algo impossível de justificar na versão de PS3, que fora lançada 3 meses depois da original de X360 e PC, é a ausência de vibração (ou rumble) ao colidir com outros veículos, trafegar sobre superfície irregular (presente em 90% do jogo, frear etc. Simplesmente não há um retorno da interação entre o veículo com o ambiente e nossas mãos através do gamepad. Artigos publicados antes do lançamento do jogo [1][2] sugerem a presença do recurso, que aparentemente foi descartado pelos desenvolvedores. Em vez disso, apenas volantes específicos da Logitech oferecem vibração nesta versão. Lamentável.
Infelizmente, não há clima variável, como chuva, neve, tempestade de areia ou quaisquer outras variações possíveis. Todas as corridas que ocorrem são agraciadas pela luz solar, o que é muito desapontador para um jogo de rally. Ademais, não há pistas em ambientes repletos de neve. Os desenvolvedores quiseram aproveitar ao máximo os poucos assets que criaram, gerando pistas muito parecidas umas com as outras.
Gráficos
Colin McRae: DiRT é uma obra de seu tempo, e isso é escancarado pelos gráficos. Se hoje ray-tracing é tendência, assim como outros títulos lançados nos primórdios da sétima geração, há excessivo uso de bloom em DiRT, um efeito que faz com que a iluminação exceda as bordas de objetos que geram ou refletem luz.
Jogos da geração anterior (PS2) empregavam o uso de bloom, mas não a nível de títulos como The Elder Scrolls IV: Oblivion, Haze e muitos outros. Embora o resultado final não agrade a todos (visto que há um mod para remover o efeito, na versão PC), bloom ali está para disfarçar a baixa contagem de polígonos do jogo, que inevitavelmente conta com muita vegetação e outros objetos irregulares no geral.
Por mais que, de fato, o jogo possua uma baixa contagem de polígonos e resolução de texturas, o que se justifica pela sua janela de lançamento, poucos meses após o PS3 com seu processador nada amigável a programadores, a alta velocidade de condução do veículo e bloom são capazes de amenizar a percepção ruim que o jogador possa ter sobre seus gráficos.
Embora a resolução de imagem seja de 1280×720 em ambos os consoles, apenas comparando ambas as versões de dos dois consoles em condições similares é possível notar que o port para PS3 possui uma resolução nativa (isso é, antes da conversão para HD) menor, e isso se torna evidente pela imagem ligeiramente mais embaçada. Não apenas os objetos ao longo do trajeto, e o objeto mais próximo da tela, o veículo, são mais nítidos no X360. Longe disso tornar o título injogável na plataforma da Sony, mas é uma vantagem para a versão original do jogo.
Som
Jogos de corrida normalmente empregam uma trilha-sonora genérica, neutra e nada memorável composta por faixas instrumentais, e isso não é diferente em DiRT. Isso não chega a ser um ponto negativo, visto que a música em jogos do gênero ali está apenas para complementar o todo, e não pode sobrepor os demais elementos. De todo modo, como não há música tocando durante as corridas, onde passamos 90% do tempo em jogo, isso não chega a ser relevante.
Os sons de motores, batidas e demais efeitos sonoros são convincentes e não detraem a nossa atenção do que realmente interessa. O que realmente está deslocado do restante do jogo, que não chega a parecer uma trama adolescente colorida (comparado aos que vieram depois, principalmente DiRT 5) é a dublagem do co-piloto. Não exatamente a voz dele, e sim as coisas que ele fala no início e término das corridas. Claro que é gratificante vencer uma corrida, mas as frases escolhidas são muito forçadas, e ninguém as diria em um contexto real.
Diversão
Títulos de lançamento em uma plataforma geralmente são apenas uma visão, um fragmento do que os desenvolvedores quiseram criar, empregando mecânicas truncadas e obsoletas, gráficos aquém da capacidade do sistema, em comparação aos que vieram depois. Felizmente não podemos dizer o mesmo de DiRT.
Como mencionado anteriormente, o título não chega a ser tão realista quanto DiRT Rally e sua continuação, sendo um meio termo entre arcade e simulador, mas é extremamente divertido por conta disso. A experiência de jogo é autêntica, seguindo os moldes de seus anteriores, e aprimorando-os. Inclusive, o jogo é muito mais divertido do que DiRT 5, fruto do uso de substâncias ilícitas, indigno de ser um título enumerado da franquia.
O que, ao meu ver, torna jogos de corrida (não apenas DiRT) mais divertidos, é utilizar a perspectiva de câmera no capô. Desde que me deparei com pilotos profissionais de Gran Turismo Sport fazendo uso predominante dessa perspectiva de câmera, não apenas passei a me divertir mais com jogos do gênero como também a conduzir melhor. Embora isso fique a critério e julgamento de cada um, não consigo pilotar o veículo com a câmera em terceira pessoa sem parecer que o carro é uma esfera de pinball.
Por conta da estreia da franquia em sistemas de sétima geração, suponho que não tenham conseguido implementar um modo co-op em splitcreen de forma a não impactar o desempenho, o que poderia torná-lo muito mais divertido. DiRT 2 também não contém esse modo, que retornou apenas em DiRT 3. Contudo, é injustificável que não possamos disputar pelo primeiro lugar nos modos baseados em tempo alternando a posse do gamepad.
Faltou criatividade dos desenvolvedores para empregar um modo de co-op local que não fizesse uso exagerado dos recursos do sistema, como o mencionado. Por outro lado, há um modo de co-op local em LAN, que requer não apenas dois consoles como também duas cópias originais do jogo, caso queiramos nos manter dentro das margens da legalidade, o que é financeiramente inviável e injustificável para a maioria das pessoas. Criatividade e disposição para isso eles tiveram.
Problemas e bugs
Não havia como lançar patches e atualizações para jogos lançados antes da sétima geração, por conta da precária ou inexistente conexão à Internet da maioria dos usuários. Devido a isso, muitos jogos lançados para PS2 e sistemas anteriores passavam por rigorosos testes de qualidade. Não é o caso de Colin McRae: DiRT, lançado em sistemas com fácil acesso e à Internet por cabo e WiFi. No entanto, o jogo não baixa atualizações nos consoles e, mesmo assim, apresenta poucos bugs.
Podemos nos deparar com screen-tearing e stutterings (principalmente em corridas de caminhões) mas, no geral, a performance é estável.
Um bug que consegui notar em diversas corridas é o indicador no lado esquerdo da tela não se mover até pelo menos um minuto e pouco corrida adentro. No geral, os loadings são longos, mesmo instalando o jogo no HD, e a versão de PS3 salva o jogo em mais oportunidades do que a versão de X360. Por mais que poderia ter sido melhor tecnicamente, nada degrada de forma significativa a nossa experiência de jogo.
Extras
Como extra podemos citar o suporte a volantes Logitech G25, Driving Force e Driving Force Pro para quem deseja usufruir de uma experiência mais autêntica de rally. Lamentavelmente, se faz obrigatório utilizar um dos acessórios citados caso você queira usufruir de vibração na versão de PS3, que não suporta esse recurso no gamepad (mesmo que seja um DualShock 3, não Sixaxis).
A versão original de X360 tem 49 achievements, sendo 46 offline e 3 online, ao passo que o port de PS3 não tem troféus, nem por meio de atualização posterior. As conquistas estão majoritariamente ligadas ao modo carreira e campeonato, seu desbloqueio assim ocorrendo de maneira orgânica, não detraindo a nossa atenção do jogo.
Como você deve ter notado na introdução do artigo, há a informação de que os servidores foram desligados. No entanto, não fica claro se isso é relevante a todas as versões do jogo ou apenas a de PC, uma vez que a informação está disponível em sua página na PCGamingWiki. Como ainda há pessoas buscando os achievements por meio de boosting (nenhuma delas diz que concluiu uma sessão, vale notar), é possível que o modo online multi-player nos consoles ocorra por meio de conexão peer-to-peer. Entretanto, não consegui me conectar ao modo online tanto no PS3 quanto no X360, o que me leva a crer que de fato havia servidores intermediando a conexão entre jogadores.
Conclusão
Colin McRae: DiRT segue os moldes de seus anteriores, ao mesmo tempo em que estabelece padrões para os jogos que vieram a seguir, padrões estes que infelizmente não foram seguidos à risca. É o sétimo título da renomada franquia de jogos de rally da Codemasters, e serve como um reboot. Comparado aos que o sucederam, o DiRT original é o jogo mais maduro da franquia, dando destaque apenas ao que realmente é importante para um título do gênero.
Honestamente, por ser o primeiro jogo da franquia na geração HD, esperava por um resultado final mais truncado e obsoleto, algo que diríamos não ter “envelhecido bem”, mas em DiRT encontrei a melhor experiência oferecida pela franquia até o momento. Claro que há muita margem para melhoria, como podemos dizer respeito de tudo, mas Colin McRae DiRT continua sendo indispensável para fãs de jogos de rally, assim como colecionadores afins. Espero que, caso um DiRT 6 venha à tona, busque inspiração em suas origens.
Pontos negativos
- Sem suporte a vibração/rumble (PlayStation 3);
- Não existe variação climática;
- Uso excessivo e surreal de bloom, que pode ofuscar a visão;
- Ausência de co-op local em tela dividida.
Pontos positivos
- Modesta variedade de (tipos de) veículos e pinturas;
- Gráficos decentes e incrível ambientação;
- Mecânicas de colisão e condução convincentemente reais;
- Experiência autêntica e divertida de rally;
- Desempenho na maior parte estável, poucos bugs;
- Conquistas obtidas de forma orgânica (Xbox 360).
Avaliação:
Gráficos: 8.5 (PS3) / 9.0 (X360)
Diversão: 8.5 (PS3) / 9.0 (X360)
Jogabilidade: 8.0 (PS3) / 9.0 (X360)
Som: 8.5
Performance e otimização: 7.5 (PS3) / 8.0 (X360)
Nota final: 8.2 (PS3) / 8.7 (X360) / 10.0
Jogo analisado em fevereiro de 2023 no PlayStation 3 e Xbox 360.
Esta análise pode não representar a experiência proporcionada pela versão para PC.
Este artigo é de minha autoria, mas foi publicado originalmente em 11/02/2023 no site Revolution Arena.